João Carlos Luz Edson Dantas na cidade crua Para o artista plástico Edson Dantas
Só a arte salva da loucura. Na sala escura, da cidade crua. Sua pintura, sua arte, seus contemporâneos a perpetua. Seus traços seus apartes sua loucura na Santa Tereza nua. De saudades da nudez, das paixões, da sociedade obscura. Qual é caraaaaa... Vai encarar caraaaa...
João Carlos Luz Rio – 06/03/2013
"Edson Dantas foi um dos últimos românticos ingênuos. Depois dele vieram o Estado Islâmico, os marchands e os galeristas. Encontrei Dantas na Padaria das Famílias, num domingo desamparado dos anos 1980, vendendo uma gravura pelo equivalente ao preço de uma garrafa de cachaça. Dantas foi assassinado pelo Sistema (ou panelinha) formado por marchands inescrupulosos, galeristas dedicados ao money washing, amigos de faca nas costas, capitalismo que transforma merda em ouro e ouro em merda. Dantas foi desaparecido pelos interesses de imbecis sem talento, por arrivistas dos órgãos governamentais que agem com a arte como os políticos agem com a seca no Nordeste. Dantas tinha talento, era arguto, crítico e independente - crimes que são punidos com a pena de morte. Com seu desaparecimento, perdeu o mundo. Venceu esse Sistema que eleva à categoria de divindade medíocres que não teriam background sequer para pintar cartazes do tipo "vende-se Fusca ano 68". A "estrutura" é montada para vender. Tanto vende um Neymar debilóide que no máximo deveria se apresentar em circo fazendo "embaixadinhas", somente porque é apoiado por uma plêiade de "admiradores" (jornalistas, empresários e futebolistas que têm porcentagem de participação em suas vendas); como vende um negro racista tipo Uncle John como Pelé, admirador de milicos ditadores, que não teve o caráter de visitar a filha feita fora do casamento, quando morria de câncer em um hospital - mas não pode admitir a existência de um Edson Dantas que estava cagando e andando para tudo isso. Literalmente. Na prática. Um dia, abaixou as calças no Largo de Guimarães e defecou em público. Edson Dantas estava acima da mediocridade imperante no Brasil. É impossível vencer a imbecilidade, porque esta é imune ao argumento." Comentário deixado neste blog pelo artista plástico e escritor, autor de "A Fuga", "Os Fornos Quentes", "O Último Banido" e "Banho de Sangue". Atualmente, o ex-militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) se dedica a terminar outro livro, sobre as guerrilhas na Argentina e no Brasil, Reinaldo Guarany.
"Pai, não esquenta. Não precisa me explicar nada. Fui gerada com o cheiro forte da sua tinta. Sou conhecedora da sua arte, eu sei a textura que teve sua vida. Quando eu quero te ver, eu me olho no espelho. Tenho tudo, tudo de você em mim. E basta!" Extraído do Facebook de Viviane Dantas. Crédito da imagem: Edson Dantas.
"Para quem não é filho de Edson Dantas; sua loucura é poética. Pra mim, não. Que não fosse artista, que não fosse meu gênio preferido; que fosse nada, um Zé Ninguém, mas que fosse meu pai. Aqui comigo até hoje. Te amo até a eternidade!" Comentário deixado neste blog, por sua filha, Viviane Dantas.

A juventude de Edson Dantas na vida de Afrânio Vital:

"(...) Ia ao cinema diariamente e conheci nesta época, anos 60, o Edson Dantas, um pintor que depois se tornaria muito famoso no Bairro de Santa Teresa no Rio, e morava em Madureira. Junto com o Carlos Lima, poeta e hoje professor da UERJ, víamos todos os tipos de filmes. Com o tempo a coisa foi ficando séria. Começamos a perseguir a obra de diretor por diretor: John Houston, Fellini, Howard Hawks... Vimos “Hatari” dezenas de vezes e começamos a frequentar a Cinemateca do Museu de Arte Moderna, onde fazíamos cursos rápidos de cinema e ficávamos admirando as garotas da Zona Sul. Não comíamos ninguém, a não ser na imaginação fílmica. E fazíamos todos os cursos gratuitos de cinema. Teve um muito bom, com o crítico Ronald Monteiro, no Museu de Belas Artes, do qual me recordo até hoje. Apanhávamos o trem em Madureira e íamos para o centro da cidade. Andava a pé da Central até o Aterro do Flamengo, uma distância muito grande, para as sessões da Cinemateca, para ver Murnau, Sternberg, Stroheim e Buñuel. E na volta às vezes chovia, as janelas quebradas do trem obrigavam a gente a ficar encolhido num canto em meio a chuva e ao frio. Teve uma vez que fomos em Paracambi, última estação do trem na época, em busca de um filme do Jerry Lewis que não havíamos visto. Era “O Fofoqueiro”. Quando fomos voltar é que percebemos que aquela era a última sessão e não tinha mais nenhum trem! Lembro muito das sessões de expressionismo alemão, os filmes mudos... aquele silêncio na sala... o Golem se aproximando em meio a bruma expressionista... de repente... nosso estômago roncava de fome e provocava risos nas plateias das pequenas salas de exibição onde o mínimo ruído se escutava. E na noite em que fomos ver “O Fofoqueiro”, dormimos na estação, foi uma noite inesquecível. No meio do vento e da poeira passamos a noite discutindo e dissecando a imensa maravilhosa e surrealista ironia do perverso polimorfo Jerry Lewis para com os ícones americanos no filme, tais como Sinatra, os gângsters e as grandes lojas e magazines. De madrugada chegamos à conclusão de que a obra de Lewis era maior que a de Chaplin, pois era mais cruel, mais devastadora, mais surreal e dadaísta. Menos humanista, comercializante e piegas. Como leitura a gente só tinha alguns livros: o do Glauber, “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”, e algumas bíblias de cinema, os livros pequenos, do Pudovkin e Eisenstein. A gente vivia sem dinheiro para nada, pedíamos dinheiro até na rua para condução, muitas vezes. Então o Edson começou a pintar profissionalmente e fizemos junto com o Carlos Lima uma exposição de quadros surrealistas de pintores suburbanos, no Floresta Country Clube, Jacarepaguá. Isso em 1968. Depois nos juntamos a grupos de cineclubes da época, abríamos os cineclubes no subúrbio e passávamos um Godard, um Fellini, Visconti Antonioni etc. Não havia o videocassete e eu vinha no Centro alugar os 16 mm, carregava projetores nas costas, emprestados de colégios e igrejas. Arranjei um emprego de office-boy no Banco Lowndes e aí já tinha dinheiro para condução de ida e volta e para o cinema, para ver mais filmes. Foi aí que o Edson, com uma câmera velha emprestada e filmes 16 mm de várias emulsões, fez o primeiro filme para o Festival do Cinema Amador JB/Mesbla, ainda em 68. Era um filme mudo e surrealista chamado “Nada” e eu era o assistente dele. No ambiente do Festival conhecemos muita gente, como o Nelson Hoineff, o Antônio Calmon, o Walter Carvalho, que estava chegando no Rio e queria fazer desenho industrial. Fiz um primeiro curta, também mudo e em 16 mm, que se chamava “Western Trick”, uma montagem em cima de cenas de um velho western, comprado na Mesbla. Intercalava a velocidade do western com umas cenas meio antonionescas filmadas no Museu de Arte Moderna, tendo como atriz a Valquíria Salvá, esposa do Alberto Salvá, que conheci no Grupo Câmera e gentilmente aceitou meu convite para participar como atriz nas cenas externas." Entrevista realizada em março de 2006 para o blog Estranho Encontro (http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2006/03/biografia-entrevista-afrnio-vital.html) Afrânio Vital é cineasta, professor de filosofia e bacharel em Comunicação Social.























Depoimento de Julio Cesar Machado


Existiriam outros artistas que se recusaram a aceitar o crepúsculo do simbolismo e, certamente como último mensageiros desse mundo moribundo, alicerçaram suas obras no sentido de resguardar o universo em que todos os grandes sonhadores habitaram.
Um desses artistas é, sem dúvida, Edson Dantas, escultor, pintor e desenhista, uma das mais interessantes criações da cultura brasileira.
Um artista, ser etéreo, quase monge, numa busca existencial e numa total liberdade criativa, sem fronteiras e nenhum compromisso com a contemporaneidade.
No Brasil, além de todos, ele compreendeu o cansaço da modernidade.
na realidade, os grandes sonhadores tiveram influência sobre ele e dessa forma, conforme foi aprofundando seu saber, o mundo onírico passou a ser também o seu. Essa opção não foi puramente estética. Mais do que isso, foi uma conduta filosófica, pois ele percebeu o perigo da morte dos grandes sonhos e com isto tornou-se um herdeiro desse mundo que quase desapareceu.
Suas obras são de um intenso misticismo e espiritualismo, tem para ele um sentido especial.
Religiosamente cético, ateu, absolutamente descrente, a sua obra é pura invocação onírica, talvez seja o mais místico dos pintores brasileiros.